Relações
amor é uma das experiências mais procuradas pelos humanos, independentemente de sua origem ou crenças. A maioria de nós parece compartilhar o desejo de um lugar seguro onde possamos nos sentir aceitos, cuidados e compreendidos. Talvez, por esse motivo, histórias de amor e relacionamentos sejam tão comumente o tema de muitas expressões artísticas, livros, programas de TV e assim por diante. Mas também é verdade que, muitas vezes, as opiniões e conselhos sobre como construir e nutrir um relacionamento saudável são enganosos e de pouca ajuda nesse assunto.
Uma boa parte desses entendimentos pode ser descrita como baseada em uma “visão romântica do amor”. Um sentimento eterno, uma experiência quase mágica, que acontecerá quando você encontrar a única pessoa no
mundo que o completa – a peça que faltava. Essa percepção é tão problemática que muitas vezes as pessoas lutam para construir relacionamentos profundos, solidários e saudáveis, em oposição aos superficiais e / ou sufocantes. Shel Silverstein ilustra esse objetivo inatingível em seu brilhante livro “A parte que falta”.
A ideia de encontrar a peça que falta compreende a percepção de que podemos eventualmente ser ou nos sentir inteiros, completamente realizados e perfeitos. Isso nunca vai acontecer. Primeiro porque estamos constantemente mudando como resultado de nossa interação com um mundo em constante mudança – a peça perfeita de hoje pode não se encaixar tão harmoniosamente amanhã. Em segundo lugar, porque, na realidade, existem tantos aspectos de um único ser humano que seria necessário um trabalho de Frankenstein para reunir uma pessoa que nos caberia perfeitamente.
“Essa percepção é tão problemática que muitas vezes as pessoas lutam para construir relacionamentos profundos, solidários e saudáveis, em oposição aos superficiais e / ou sufocantes.”
Então, se encontrar a pessoa perfeita não é a resposta, então qual é? Se não devemos procurar alguém que nos faça sentir completos e em paz, o que devemos procurar? Na realidade, precisamos de uma mudança de perspectiva para melhor abordar uma área tão importante de nossas vidas.
Uma ideia subjacente à expectativa do “amor romântico” é que a busca da felicidade é o principal objetivo da vida de alguém. Um relacionamento, portanto, deve ser outra maneira de atingir esse objetivo. E mais, o parceiro perfeito deve ser a solução para as coisas com as quais lutamos ou tomar em suas próprias mãos a tarefa de nos fazer felizes. Mas, assim como não é possível ter a pessoa perfeita ao nosso lado, também não é sábio comprar a ideia de felicidade como o objetivo da vida e do propósito de um relacionamento.
Fazer escolhas para alcançar a felicidade traz a ideia implícita de que devemos evitar desconfortos e momentos desagradáveis. Mas a vida não é possível sem eles. Se nos propusermos esse objetivo, viveremos em constante frustração e poderemos acabar escolhendo certos caminhos não porque sejam valiosos ou significativos para nós, mas porque queremos evitar algum desconforto presente em outro lugar.
E talvez na busca pela felicidade (ou da peça que faltava), acabamos não percebendo mais as lindas borboletas, as aventuras que o presente traz e as experiências ou situações curiosas que podemos encontrar ao longo do caminho. Em outras palavras, acabamos não aproveitando os momentos
felizes porque estamos tão focados em buscar uma vida feliz inatingível. Patricia Carvalho – Psicóloga em Amsterdã
Felicidade, Relacionamentos